quinta-feira, 3 de março de 2011


















De Amor e de Sombra de Isabel Allende
Edição/reimpressão: 2004
Páginas: 290
Editor: Difel

É um dos primeiros romances de Isabel Allende

De Amor e de Sombra. relata-nos uma história de amor desenvolvida na “sombra” isto é, na clandestinidade. E porque Francisco Leal, o herói romântico da história se dedica precisamente a actividades clandestinas como o exercício da Psicologia – cujo ensino foi proibido depois do golpe de estado militar, que culminou com a morte do Presidente Salvador Allende –, por ser considerada uma actividade “subversiva” e “perigosa”, e a facilitar a fuga de presos políticos para fora do Chile, no tempo de Pinochet. Leal, que obteve o doutoramento em Psicologia anos E.U.A. vê-se, de um momento para o outro sem emprego e obrigado a mudar de ramo, tornando-se fotógrafo de uma revista feminina de moda para sobreviver. Lá, conhece Irene, uma jovem de ascendência aristocrática, uma personalidade modulada que se vai aprofundando ao longo da narrativa, à medida que se envolve emocionalmente com Francisco e com as causas a que está ligado. Irene acompanha Francisco nas reportagens e vai-se apercebendo, gradualmente, das actividades clandestinas do colega quer no que toca ao exercício da psicologia quer em algo ainda mais “obscuro”. Francisco ocupa o tempo livre a conseguir documentos falsos para os prisioneiros políticos, ajudado pelo irmão, o sacerdote José Leal, que conta com a simpatia e cumplicidade do cardeal.

De Amor e de Sombra chama a atenção para o violento “drama dos desaparecidos”, um episódio vergonhoso da história do Chile que diz respeito ao desaparecimento de milhares de presos políticos, “aqueles a que a Polícia política leva e não devolve”.

“Neste contexto não é preciso pertencer-se a um partido político da oposição para se ser encarcerado ou proscrito: basta ser membro de um sindicato”.

Como exemplo, Isabel Allende mostra a situação da família Leal onde o pai de Francisco, professor de Literatura é saneado e Javier, o cientista, o outro irmão de Francisco, é segregado do mercado de trabalho pelo simples facto de ter sido filiado num sindicato. Uma violência para uma família que valoriza o trabalho acima de tudo como símbolo da dignidade humana.

Mas o cúmulo da prepotência sob a forma de exibicionismo é o que acontece em casa de Evangelina, uma jovem deficiente, doente com epilepsia, trocada à nascença e, por isso, pouco amada pela família, torna-se vítima da rigidez e pusilanimidade dos funcionários do hospital estatal e da brutalidade e intolerância da polícia política. A desordem mental da jovem é mal interpretada pela população local que a confunde com possessão demoníaca ou, se calhar, fruto de intervenção divina, causadora de prováveis “milagres”. Uma crença que é facilmente disseminada numa população onde grassa o analfabetismo. Por outro lado, a rigidez associada ao regime militar não tolera o comportamento de Evangelina por ser incontrolável e, como tal, subversivo, devendo por isso ser “metida na ordem” pelas autoridades. Evangelina acabará por ser levada e incluída no contingente daqueles que “não voltam”. A sua detenção é o ponto de viragem da história porque o seu desaparecimento vai obrigar Irene, que assistiu, junto com Francisco, ao acontecimento, a “agir na sombra” e a integrar o grupo daqueles que passam para o outro lado da fronteira, aqueles que estão, politicamente, em situação difícil.

O encantamento surge logo nas primeiras páginas deste romance que agarra o leitor e o faz virar sofregamente página sobre página . E como em todos os livros desta autora foi só deixar-me encantar...


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